segunda-feira, 10 de março de 2014

A Força da Igreja na Idade Média Teatral

Europa da Idade Média com suas Peças "M.M.M.":


   Durante a Idade Média o teatro quase desapareceu da Europa, e só conseguiu ressurgir a partir da liturgia da Igreja. No princípio do século XI o primeiro esboço foi o espetáculo do trovador. Este criava versos e os declamava, e era geralmente acompanhado por um jogral que tocava instrumento.
   O que diz respeito ao teatro religioso, iniciou com uma comunhão da Igreja e terminou numa festa comunal (segundo John Gassner). Somente os homens podiam atuar, uma mulher seria um escândalo. Os espetáculos na Inglaterra, França e outras nações européias eram interpretadas no início dentro das igrejas, como os mistérios e os milagres, outros em geral apresentados em espaços exteriores a ela, como as moralidades.
   
  Para ter uma noção mais clara do universo teatral 
da época, Margot Berthold afirma:

“o teatro da Idade Média é tão colorido, variado e cheio de vida e contrastes quanto os séculos que acompanha. Dialoga com Deus e o diabo, apóia seu paraíso sobre quatro singelos pilares e move todo o universo com um simples molinete.”

 Embora estas formas teatrais fossem muito mais desenvolvidas que os esboços dos jograis, elas ainda apoiavam-se muito mais na linguagem gestual que na verbal (salvo as moralidades) e, nos primeiros tempos, eram apresentados por membros do clero, que falavam em latim. Os fieis quando conseguiam participar, atuavam apenas como figurantes. Pouco a pouco a situação foi modificando, os atores passaram a ser gente do povo, o local de representar deixou de ser a igreja e a língua passou a ser do país.
 É importante definir o temas que seguiam: "os mistérios", "os milagres" e "as moralidades".

Os Mistérios 

Também eram conhecidos como dramas litúrgicos, com o principal tema festividades religiosas das Sagradas Escrituras da Bíblia (natal, paixão, ressurreição etc.). Cada um deles era representado por uma corporação, fazendo em um dia, os armeiros, por exemplo, a expulsão do paraíso; noutro; os padeiros a última ceia; noutros os pescadores e marinheiros o dilúvio; e por ai adiante. A ordem das cenas era desorganizada. No início da idade Moderna, a abusiva mistura de litúrgico e do profano levou a Igreja a proibir os mistérios.

Os Milagres 

Pode-se dizer que estas representações retratavam a vida dos servos de Deus (a Virgem, os Santos etc.) não sofreram nenhuma alteração, o que acabou com seu progressivo abandono. A Igreja defendia que as escrituras deveriam ser representadas de maneira verídica diante do povo, dando assim pouca liberdade para invenção.

As Moralidades

São representações que se desenvolveram mais tarde que os dois gêneros acima. Estavam repletas de ensinamentos cristãos, mas tinha um caráter mais intelectual e em vez de utilizar personagens da Bíblia, serviam-se de figuras que personificam defeitos, virtudes, acontecimentos e ações. As moralidades tinham sempre intenção didática religiosa. Mostravam-se os bons exemplos que deveriam ser seguidos e só muito raramente continham sátira ou pretendiam causar polêmica. A moralidade pode ser considerada um grande passo em direção ao teatro moderno, já que o autor tinha autonomia para desenvolver os assuntos, embora se mantendo dentro do tema principal destas representações, a luta entre o bem e o mal existente na alma humana. Tinha a oportunidade de analisar as qualidades e defeitos e dar relevo a determinas características psicológicas das figuras.


"Everyman" (Todomundo)

Foi uma obra prima entre as moralidades escrita no final do século XV, não sabe-se ao certo quem foi seu autor.
Nela é narrada a forma pela qual o personagem "Todomundo", em seu caminho rumo ao túmulo, é literalmente abandonado por todos os companheiros “fiéis”, com exceção de Boas Ações, o único que aceita acompanhá-lo ao tribunal de Deus e agir em favor dele. Nesta moralidade ele não se resume a um único personagem. O mal é representado pelos vícios e defeitos inerentes ao ser humano. São eles que afetam e prejudicam a vida de Todomundo. Apego excessivo aos bens materiais, como também constante desobediência às leis de Deus, fazem com que o personagem tema profundamente seu julgamento divino. Esse vilão que se personifica nas figuras da Riqueza, Beleza, etc... é no pensamento medieval a representação do mal que afeta o ser humano e o leva a uma série de reflexões pertinentes a respeito de suas ações durante a vida.


A simplicidade com que o tema é narrado acaba aproximando a obra da platéia. Todo o julgamento de valores morais ocorre na peça é de fácil entendimento. Espectador se identifica com Todomundo e passa a temer o julgamento divino tanto quanto ele. Da mesma maneira que serão observadas em inúmeras formas teatrais posteriores, o que a dramaturgia medieval traduz do pensamento do período é uma exaltação da virtude e o repúdio dos vícios de modo a possibilitar a redenção da alma humana.

Abaixo uma leitura aprofundada de "Todomundo" 
feita por Aguinaldo Pereira


 Everyman - PCC Performing Arts Center
(inglês)



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